22 de fevereiro de 2011

diário de nattan perius, outubro de 1929...

"Começou a chover forte lá fora... E mesmo assim eu preferi não ascender o cigarro, não me debruçar na varanda, não olhar a rua sob a tempestade... Preferi o que me dói menos, o quarto, a cama, a solidão de sempre. Quanto mais o tempo passa, mais eu penso que me tornei um mendigo de afetos, pedinchando um pedaçinho de atenção, trancado aqui dentro, dentro do meu eu."

Entre o fogo e a derme


Como quem sopra
a própria pele antes
para você queimar
melhor, mais
eficaz. Com você,
os pontos da sutura
são auxílio ao corte.
Deito e observo
o prazer com que
você me desinfecta
para proteger,
contra minha tez,
os seus insetos.
Eis-me aqui,
querido, todo pós-
utópico depois
que você confunde
pela centésima vez
sulco e charrua
durante o sexo
ou seu exagero
em buscar no dicionário
antes de me tocar
a etimologia de palavras
como amortecimento.
Quando você fala,
arreganho os ouvidos
e olvidos e Ovídios
e respondo
à attention span
de peixe dourado
que você me dedica
em nossa vida de aquário.
Sei que devo soar,
aos seus ouvidos,
como um conjunto
de erratas e spam.
Resigno-me
como inseto extinto
preso em sua resina.
Os amigos sugerem
que eu deixe o cronômetro
vir coser os lábios
da ferida, enquanto
você seleciona
em random mode
por trilha-sonora
o sonzim dos meus ossos
que engranzam
sob o seu corpo.
Silêncio não
é costureira,
nem na Espanha
onde talvez haja
alguma que atenda
por Martírio ou Remédios,
como numa peça qualquer
de Lorca ou outra louca.
Sinto-me como uma Orca
justiceira ou uma Scarlett O´Hara
sem Tara.
Resta-me a esperança
que arqueólogos futuros
me descubram, soterrado,
fossilizado, esquecido
sob as suas vírgulas.
Hei de voltar, como um vírus
trancafiado nas tumbas
de Tutancâmon ou outra múmia,
devastarei paisagens e populações
à procura dos seus pulmões.

(Ricardo Domeneck)

PS: adoro esse poema, e a foto é dum blog que eu nao lembro o nome, e eu também gosto dela.

quem vem com tudo não cansa...

olá gaylera. estou notificando a minha volta (mais uma vez) depois de um tempo sem postar... as vezes eu penso que poderia escrever aqui todos os dias, e as vezes eu penso que jamais seria capaz de escrever uma frase que tenha sentido. entao. quem vem com tudo nao cansa (betty balança?)#cazuzaforever.

fiquem de olho... moda, arte, poesia e um pouquinho de sacanagem do minha memória suja, o meu blog diário. bjs