25 de março de 2010

A MASSACRANTE FELICIDADE DOS OUTROS


Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.

Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: ‘Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento’ .

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados pra consumo externo.

‘Todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e filosoficamente corretos. Parece que ninguém, nenhum deles, nunca levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo’.

Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem.

Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?

Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Será bom só sair de casa com alguém todo tempo na sua cola a título de segurança? Estarão mesmo todas essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está em casa, lendo, desenhando, ouvindo música, vendo seu time jogar, escrevendo, tomando seu uisquinho?

Tenha certeza que as melhores festas acontecem sempre dentro do nosso próprio apartamento.

MARTHA MEDEIROS



pessoal, a Martha eh uma jornalista e poeta gaúcha (com muito orgulho) que tem uma coluna hiper no zero hora e (descobri semana passada) que tbm eh colunista do Santa. Queria agradecer de coração o Boris Zabolotsky (meu primo, russo e chiquérrimo) que me mandou a crônica (ele sabe q adoro a martha), é p pessoas como vc que este blog existe, valeu querido, continue me mandando coisinhas legais e interessantes!

a foto que ilustra essa postagem é de outra amiga querida e estimada, a Fá Flek, (juro q nao sei o nome completo dela, mas ela mora no meu coração) artista maravilhosa, espero que goste da homenagem, vc sabe q eu adoro essa foto, pq é sua, e pq fala comigo, me intriga, me inquieta, me faz bem. acho q eu intitulei ela como: uma cadeira, um quintal, uma janela, e muitos sorrisos...

antes de ir, quero deixar um beijo grande e cheio de carinho pra Marina, menina, linda, que eu amo muito.

um chero pra todos e até...

5 comentários:

  1. obrigado, por lembrar da minha pessoa em teu blog, martha medeiros é mesmo tudo nessa vida, só podia ser gaúcha.

    ResponderExcluir
  2. Concordo com o boris, obrigada por citar a martha.. ela é incrivel, tanto quanto tudo que vc escreve aqui, e obrigada duplo por me citar tb.. no finalzinho..
    beijo-te sempre
    com carinho
    meu menino!

    ResponderExcluir
  3. Adoro esses sentimentos cotidianos, que todo mundo sente, mas soh a Martha, Caio, Pessoa.. mesmo pra escrever isso tão bem e de forma que todos nós nos identificamos..
    E só eu sei como a minha sacadadinha tem valor, só eu sei. :)
    Um grande beijo primo

    ResponderExcluir
  4. Já diria o mestre.."Hoje a festa é la no meu apê, pode aparecer...vai rolar bunda lê lê.."

    ResponderExcluir
  5. euheuhem tu vai ver!
    ahhh, mon blan, eu tbm sei o valor q essa sacadinha tem.... ho se sei...

    ResponderExcluir